Tuesday, July 31, 2007

Mais um fim-de-semana e mais uma odisseia…

Odisseia rima com cheia, e essa será porventura a palavra de ordem de momento aqui no Reino Unido. Mas comecemos do inicio…

Há muito que estava marcada a 2ª visita dos meus pais a terra britânicas. O programa era extenso e englobava conhecer as Midlands (Birmingham, Coventry, Stratford-Upon-Avon, Warwick, Ironbridge Gorge), Liverpool e Manchester. Tudo fora planeado a rigor e com a máxima optimização do tempo, visto este ser escasso. Assim, tratei de reservar a viagem dos meus pais de Lisboa directamente para Birmingham (coração das Midlands) onde os iria buscar na sexta à noite. Confesso que nesta altura estava um pouco alheado da realidade do país até porque tinha passado os últimos dias a trabalhar duro e a rever meticulosamente todos os pormenores da viagem. Assim, chegado o fim do trabalho na sexta, fui a casa arrumar a trouxa e pus-me a caminho de Birmingham. Pelo meio confirmei o do tempo de viagem no Viamichelin: 2h15m (atentem a este pormenor porque é importante). De facto, depois de todas as experiências negativas que já me proporcionaram, tenho que dizer que as estradas britânicas são definitivamente o meu inimigo número 1 por estas bandas. Uma vez que o avião só chegava às 23h e ainda tinha que esperar pelo desembarque, malas, etc, saí de casa descansadamente às 20h, hora em habitualmente já não se vê um carro nas estradas porque como se sabe os ingleses começam a noite muito mais cedo do que nós. Enfim, percorri cerca de metade do caminho tranquilamente em auto-estrada quando de repente…sou forçado a parar. Espero 10min: nada. Espero mais 20min: nada. Já esperneava, bufava, esbracejava, saia e entrava do carro e uma hora depois: nada, não tinha avançado nem um metro! Os ingleses esses continuavam impávidos e serenos dentro dos veículos. Uns estacionam mesmo o carro na berma e ali ficavam à espera não sei bem do quê. Eu que até então tinha todo o tempo do mundo começava a ficar nervoso por não poder ir buscar os meus pais ao aeroporto. Entretanto o cenário piorava consideravelmente. O ponteiro da gasolina estava praticamente na reserva, a bateria do telefone estava também nas últimas e não tinha sequer saldo para ligar. Depois de sintonizar o rádio de estação em estação consigo finalmente perceber o que se passa: as chuvas dos últimos dias alagaram por completo aquela auto-estrada e praticamente todas as estradas nas redondezas. Ouço relatos de pânico de pessoas que de repente viram os seus carros a flutuar em plena estrada ou pior, a avariarem devido ao contacto da água com o motor. As notícias eram cada vez menos animadoras. O locutor avisava todos os que se encontravam perto de Oxford: mais vale encostar o carro na berma e dormir mesmo aí, “…you’re not getting anywhere today i’m afraid”. Eu estava pois claro incrédulo com a minha pouca sorte. De todos os destinos possíveis, tinha logo que ter escolhido o mais afectado pelas cheias no Reino Unido. Esperei entretanto pelo telefonema do meu pai a quem rapidamente e nervosamente relatei a situação. Disse-lhes para irem ter ao hotel directamente poucos antes de ficar sem bateria. A chuva não parava! Estava escuro e não tinha agora forma de usar o telefone. Para piorar a coisa, começava a estar aflito para ir à casa de banho! No meio de tanto azar, uma luz! Milagre: os carros começaram a andar (algumas 3 horas depois). Não andaram muito é verdade mas foi o suficiente para me pirar por um desvio. Já com o computador ligado no colo (incrível mas é verdade), mapa numa mão, volante na outra e com o ouvido colado na rádio ia ouvindo: A34 está completamente bloqueada, M42 cortada na junção xpto, A41 inundada, A22 indundada, e por aí fora. As opções não eram muitas mas arrisquei! Não ia passar ali a noite. Estranhamente ou não, apenas um outro carro saiu do desvio, todos os outros preferiram continuar em fila…que se passa com esta gente meus Deus??? Completamente às escuras e por caminhos de cabra, ia fazendo o que podia. Dei mil e uma voltas, andei para trás e para o lado, para a frente e para trás novamente, mas passado uma hora e tal, dei de novo com a estrada principal mais à frente e já livre das cheias. Pude enfim reabastecer e aliviar a bexiga. Respirei fundo, comi qualquer coisa e pus-me de novo a caminho. Por estranho que possa parecer, sentia-me bem, sentia orgulho e sorria para mim mesmo enquanto continuava a ouvir na rádio que as estradas estavam cada vez piores e não havia esperança para ninguém…no meio de tanto pessimismo, o tuga safou-se mais uma vez. E às 2h30 da manhã, 6h30 depois lá estava eu a bater à porta do hotel. Nota máxima!

Depois deste testamento, sobra pouco espaço para falar do resto do fim-de-semana. De qualquer forma, aqui vai. Com os meus pais aproveitei para carimbar mais alguns destinos carismáticos aqui da terra numa viagem claramente de cariz cultural. Os pontos altos foram:

- BIRMINGHAM: impressiona pela sua grandiosidade e pela construção moderna e arrebatadora combinada com edifícios mais antigos. Em tamanho não deve nada a Londres. É já a 2ª cidade maior do Reino Unido…


- COVENTRY: o ex libris é a Catedral de arte moderna que inclui cruzes com Cristo estilizadas, mesas e bancos com design arrojados, pinturas contemporâneas, enfim uma decoração muito diferente do que estamos habituados. Ninguém fica indiferente, católicos ou não católicos. A nova catedral foi construída depois da velha, com quem convive lado a lado actualmente, ter sido parcialmente destruída durante a segunda grande guerra.


- STRATFORD-UPON-AVON: a terra natal de Shakespeare é uma das muitas vilazinhas típicas inglesas giríssimas com aquelas casas às riscas pretas e brancas (estilo Tudor) em tudo quanto é rua. No entanto, as chuvas que caíram deram-nos a conhecer a vila numa outra perspectiva. Com praticamente todos os museus, lojas, etc fechados devido à falta de pessoas, bem que podíamos ter alugado um barco para navegar entre as ruas desta pacata localidade.


- WARWICK CASTLE: esta era de todas as visitas a que mais expectativa me tinha criado. Um castelo medieval trazido de novo à vida com demonstrações de duelos com espadas, combates a cavalo, lançamento da catapulta (que não chegou a acontecer por causa da chuva) e muitas outras animações. Para a noite tínhamos reservado o “Kingmaker’s Feast” que é basicamente uma simulação de um jantar medieval, em que toda a gente vai vestida a rigor e onde não faltou música, truques de magia e muita muita comida…e boa!


- IRONBRIDGE GORGE: para quem não sabe (e aposto que ninguém sabe), esta pequena vila das midlands inglesas foi o berço da revolução industrial que mudou o mundo há cerca de 200 anos atrás. Foi daqui que saíram as primeiras peças de ferro forjado para construção e onde se iniciou a industria metalúrgica devido à grande quantidade de recursos naturais existentes na área. Foi também aqui que foi construída a primeira ponte de ferro do mundo que de resto dá o nome à cidade. A visita ao túnel onde de fazia a extracção de alcatrão foi uma pérola…


- LIVERPOOL: desiludiu um pouco confesso, estava à espera de uma cidade cheia de vida e muito muito grande. Não só é uma cidade relativamente pequena (pelos padrões de Londres pelo menos) como está neste momento a passar por um processo intenso de renovação para em 2008 ser a capital europeia da cultura. O melhor mesmo foi termos conhecido o local onde os Beatles iniciaram a carreira: o Cavern Club (ver clip de 30 seg em baixo), para regozijo dos meus pais. Não faltou também o carimbo da visita ao estádio do Liverpool FC.



Liverpool - The Cavern Club
Uploaded by davidtbm

- MANCHESTER:
à semelhança de Liverpool, desiludiu pela pouca grandiosidade. Parecia uma Londres em miniatura e nem mesmo o London Eye deixaram de imitar. Não admira que a rivalidade norte-sul seja tanta. Estes gajos não podem ficar atrás nunca! Mas este ano lá tiverem no futebol a grande vingança: O estádio do Man Utd esse sim impressiona e muito. Tive pena que tivessem em digressão…estava à espera de encontrar o grande Cristiano e agradecer-lhe por ter tirado as madeixas louras, brincos e ter arranjado os dentes. Obrigado RONALDO ;)

2 comments:

Cat said...

Que grande canseira...mas lá te safaste...à boa moda dos "tugas".

beijos!

Anonymous said...

Somos nós os teus amigos secretos outra vez...boa vida a tua! sempre a viajar.... e quando não há $$$ convida-se os cotas para pagarem as despesas... gostei da ideia!... espero que da proxima sejamos nós... vê lá se nos convidas!