Monday, April 23, 2007

Encontros imediatos com a vida selvagem…

Não foram um, nem dois, mas sim três encontros imediatos com a natureza nos últimos dias…um caso de cada vez

Uma amiga rastejante de sangue frio…

Já vos tinha dito que trabalho no meio do bosque, embora muitos de vós tenham entendido isso como uma figura de estilo…NÃO! Era mesmo para levar à letra. Até agora o indicador mais objectivo de que trabalhava num bosque era o chilrear dos pássaros, o que é bastante agradável convenhamos. Não obstante, no outro dia enquanto caminhava pela estrada rural até ao Post Office, dei de caras com um réptil poiquilotérmico sem patas…vulgo, uma cobra! Parecia de todo inofensiva com os seus 40-50cm, já que estava enrolada tipo pescadinha de rabo na boca e imóvel. Curioso, aproximei-me dela q.b. e com a ajuda de um pau toquei-lhe…De repente a cobra despertou de um sono profundo e por uns segundos ficou frenética. Parecia que estava a dançar break-dance…um espectáculo digno de se ver. Depois abriu a bocarra para mim quase 180º exibindo a sua mucosa encarnada e os belos dentinhos. Que ingratidão! Eu queria apenas certificar-me que ela estava viva e empurrá-la para fora da estrada para evitar que um carro a atropelasse. Afastei-me 2-3 ou passos mas continuei a admirá-la, afinal de contas estava com as minhas botas Caterpillar, o máximo que podia acontecer era a cobra partir os dentes na biqueira…enfim ela lá acalmou e começou a andar…ou melhor a rastejar, em direcção aos arbustos. Missão cumprida! Ah...já agora uma foto: say cheeeeeese ;)

Bambi voltaste!

Quando fui ao escritório no Domingo à noite buscar o portátil cruzei-me com uma criatura inesperada. Aproveitando talvez a calma que reinava ao fim-de-semana para aqueles lados, um veado juvenil decidiu aventurar-se no único pedaço de civilização perdido no meio bosque. Saiu da escuridão, cruzou-se com os meus faróis e fugiu desamparado pelo meio das árvores, sem cornos, pequenino e desengonçado, nem as pintas do dorso lhe faltavam. Nessa altura senti-me nostálgico e recordei os meus tempos de criança em que fui pela primeira ao cinema. Filme: BAMBI. Lembro-me que chorei baba e ranho na última cena do filme…ok tinha 6 anos tá? Mas pensando bem agora, que final tão pouco pedagógico para as crianças…enfim. De quando a quando, também encontro esquilos, mas já é tão normal que não faz história. Muitas outras vezes passo perto de arbustos na fronteira entre a civilização e o bosque, e ouço as folhas a restolhar ferozmente…nem quero imaginar o que se passará lá dentro. Um dia destes ainda me sai um jacaré ou pior, um “chav” de faca em punho…

Mutantes voadores à solta!

Naquele que foi seguramente o dia mais quente até agora em Inglaterra a minha casa foi invadida por dúzias de insectos (de noite) atraídos pelas luzes brancas da cozinha e aproveitando o facto das janelas estarem abertas. Entre mosquitos, borboletas domésticas e outros que tal, houve uma que se distinguiu entre todas as espécies. Na altura não sabia o que lhe chamar. Mosquito gigante? Mosca-Aranha? Fosse o que fosse era grande, feio, porco e mau! Parecia um mutante, o que com todas as alterações climatéricas que se fizerem sentir, não me admirava nada. Enfim, estava eu preparar-me para fazer o jantar, já depois de ter “despachado” uns quantos mosquitos, quando avistei a “besta”, repousando nas suas longaaaaas patas pretas contrastantes com o branco cal da parede. Naquele momento estava apenas eu e a Espanhola na cozinha. Viro-me para ela e digo: “Oh look, there’s a huge bug on the wall…look at it. Is it a spider? Whatever it is, it’s enormous…it’s a giant beast!”. Ela olhou muito devagarinho para cima, deu um grito de terror, levantou-se e foi-se embora. Bem, agora era apenas eu e o “mutante”, mas desde que ele não me chateasse, eu também nada faria para o importunar. Continuei a preparar o meu jantarzinho, embora sempre com um olho no burro e outro no cigano, não fosse o(a) safado(a) querer pousar no meu repasto. Nisto, quando vou buscar alguma coisa para pôr na comida, sai-me outro espécime daqueles gigantones esbaforido por detrás das garrafas. Não gritei, mas apanhei um susto do caraças…sobretudo porque estas aberrações são mesmo colossais. Observei-o enquanto pousou noutra parede e pensei “Boa…já não bastava ter que vigiar um, agora tenho dois…ainda fico estrábico!”. Continuei a preparar o jantar com um olho no burro, outro no cigano e outro no tacho, quando de repente perco de vista o primeiro. Mau sinal! Quando dou por ela está o bicharoco em cima de mim, atraído talvez pelo vapor do tacho…argghhh! Dou-lhe um safanão que o deixa atordoado, agarro numa revista e cá vai disto! Estava possuído! Enrolei a revista em formato de bastão e distribui tacadas por tudo quanto era sitio, qual Babe Ruth (lenda do Baseball) qual quê. Varri a cozinha toda à “swingazada”. Como devem imaginar depois desta ofensiva não restou nem um insecto para contar a história…e o jantar já não soube igual, tudo porque aquele acéfalo decidiu quebrar as tréguas e invadir a minha privacidade. Enfim…hoje vim a saber numa conversa com um colega que aqueles dois espécimes são até bastantes comuns em Inglaterra. Chamam-lhes carinhosamente “Daddy longlegs” mas o nome técnico é Crane Fly (http://en.wikipedia.org/wiki/Crane_fly). Do artigo, destaco o seguinte:

Despite their common names, crane flies rarely prey on mosquitoes, nor do they bite humans. Adult crane flies feed on nectar or they do not feed at all; most crane fly species live only to mate and die once they become adults.

Ora aí está um bom lema de vida ;)

2 comments:

Anonymous said...

Olha, gostei deste post! Conseguiste fazer-me rir no trabalho... good work ;)

Cat said...

Já me fartei de rir...em especial com a história da "besta"...
Tadinho do bambi...e a cobrinha de certeza que não te fazia mal nenhum...